Caros leitores, Gostaríamos de contar para vocês um pouco da história da Revolução Farroupilha. Um dos nossos colaboradores, o fotógrafo gaúcho Carlos Eduardo Vaz, escreveu o texto abaixo para quem não conhece essa história. As fotos desse post também são dele, todas feitas no Acampamento Farroupilha em Porto Alegre. A Semana Farroupilha é um momento especial de culto às tradições gaúchas e envolve praticamente toda a população do estado. Em Porto Alegre, a Semana Farroupilha tem seu núcleo concentrado no Parque Maurício Sirotski Sobrinho ( Harmonia) e oferece uma intensa programação sócio, cívica e cultural, com constituição de um grande Acampamento Farroupilha que tem uma duração de quase 30 dias. Se você quiser mais informações, pode acessar o site desse grande evento que acontece de 07 a 20 de setembro. www.semanafarroupilha.com.br E viva bem a vida comendo um delicioso churrasco, tomando um chimarrão e dançando um bom vanerão. Susana e Mauricio
Texto e fotos: Carlos Eduardo Vaz
O campo invade a cidade !
Uma Revolução é fonte de mudanças radicais.
A Revolução Farroupilha mudou para sempre a imagem que o gaúchos fazem de si mesmo e como o País e o mundo os veem…ou imaginam.
A guerra se estendeu por longos 10 anos, entre 1835 e 1845, período em que o Brasil foi palco de Revoluções e Insurreições contra o Império: a Cabanagem(Pará), Sabinada(Bahia) e Balaiada (Maranhão).
Os ideais que pregavam a derrubada das monarquias absolutistas fervilhavam mundo afora.
A Independência dos Estados Unidos da América (1776) e a Revolução Francesa (1789) forjaram uma geração de pensadores e revolucionários.
Na América Latina, Simon Bolívar (Venezuela), Artigas (Uruguai) e San Martín (Argentina,Chile e Peru) promoviam guerras de libertação.
No Brasil, as lojas maçônicas e a imprensa propagavam os ideais republicanos, que em alguns casos, serviram como uma luva para atender aos anseios da elite rural. Um caldeirão prestes a ferver….
O Império taxava com impostos extorsivos os produtos que a Província de São Pedro do Sul exportava, tais como a erva mate, o trigo, graxa, sebo e, principalmente, o charque, produto essencial para a sua economia.
A elites rurais da Província estavam relegadas a apenas estalagem e celeiro do Império, fornecendo armas, cavalos, exércitos e alimentos para as guerras fronteiriças (Cisplatinas), perdendo prestígio e influencia.
Veio a gota dágua: o Governo central reduziu a taxação de produtos importados da Região do Prata (Argentina e Uruguai), tendo estas medidas um enorme impacto na precária economia da região. Em 20 de setembro de 1835 a capital é tomada por rebeldes.É o início de uma sucessão de fatos que culminaria com a Guerra.
Hoje, Porto Alegre também é invadida!!
Em plena área central da capital, durante mais de 30 dias, milhares de pessoas se reúnem em Piquetes (confrarias de empresas, instituições, bancos, escolas, universidades, etc…) e CTGS (Centros de Tradições Gaúchas) para manterem vivos tradições e hábitos de seus antepassados, assim perpetuando os ideais de uma Revolução que tingiu de vermelho os verdes campos do Sul do Brasil. Pode parecer um paradoxo… e é.
O parque da Harmonia, local do Acampamento Farroupilha, é palco de manifestações culturais, bailes, concursos musicais e de trovas (versos) e de danças folclóricas (Vaneras, Milongas, Chamamés, Bugios), onde não poderia faltar a culinária (churrasco, feijão tropeiro, carreteiro de charque) e o chimarrão.
Feira de indumentária gaúcha (lenços, botas, bombachas, vestidos, facas) equipamento para montaria e provas campeiras (chamadas de Rodeio) reproduzem o dia a dia e o modo de vestir do homem do campo, com provas de tiro de laço e Gineteadas (doma de cavalo).
Homem, cavalo e gado…bem ao lado da região central de uma moderna metrópole com mais de um milhão e meio de habitantes.
Brancos, negros, homens, mulheres, crianças, ricos, pobres, descendentes de escravos, índios, portugueses, italianos, alemães, espanhóis, e dezenas de outras etnias, se juntam em uma utopia de liberdade, igualdade e humanidade…como o lema Positivista da Bandeira do Rio Grande do Sul… Utópico? Certamente…mas o que seria do mundo sem utopias?
A fumaça branca, que emana das centenas de churrasqueiras e que toma conta do parque, cria uma neblina que pode ser vista ao longe. Fumaça que não esconde, apenas delimita um local onde os homens tentam esquecer suas diferenças, crenças, raças e cultuar uma história de lutas, glórias, acertos, erros, heróis e vilões, que fazem parte do imaginário de um povo : Os Gaúchos. Brasileiros nascidos no Rio Grande do Sul, vindos do campo, das cidades, migrantes e imigrantes, que adotaram, foram adotados, e tomaram esta terra como sua.
As festividades culminam com um grande desfile no dia 20 de setembro.
Emociona a visão de centenas de cavalarianos com as cores da Bandeira do Rio Grande do Sul (verde e amarelo (cores do Império) rasgadas por uma faixa vermelha (cor da Republica), lado a lado com a do Brasil (cuja independência de Portugal também é comemorada no mesmo dia 07 de setembro.
Não há vencedores em uma guerra. O Tratado de Poncho Verde, assinado por Caxias em 1º março de 1845 (na cidade de Dom Pedrito), e pelos rebeldes David Canabarro e Antonio Vicente da Fontoura, pôs fim a uma sangrenta guerra entre irmãos.
O nome Farroupilha, ou simplesmente Farrapo, remete a pessoas pobres e com roupa esfarrapada. Milhares morreram assim. A revolução era Federalista…a separação uma alternativa…a unidade nacional por fim.
Liberdade, igualdade e humanidade…
Ideais regados a churrasco, chimarrão, sorriso franco e mesa farta.
A porteira está aberta…sejam todos bem vindos !