Oi gente! Entrevistei o Dinho Barros, um atleta de destaque do snowboard brasileiro . Conheça a história dele e também um pouco da história do esporte no Brasil. Para você que tem interesse pelo esporte, quer começar a treinar, leia o artigo pois está super interessante. E para todos, vale a pena conhecer a história e os desafios de se praticar um esporte de neve em um país tropical. Beijos, Susana
DINHO BARROS – SNOWBOARDER
O começo
Comecei a gostar de esportes de pranchas aos 10 anos de idade. Indo com frequência a praia, comecei com prancha de isopor de surfe, depois skate da Torlay da década de 70.
Nos dias de semana, não tendo praia na cidade de São Paulo, meu melhor meio de transporte era um skate Hang Ten que meu pai havia trazido dos Estados Unidos (ele era praticamente parte de meu corpo) .
Depois veio o motocross, os saltos de paraquedas… O snowboard veio no final da década de 80, quando fui estudar por 3 anos em Bournemouth, cidade de praia no sul da Inglaterra.
Descobri que esse surfe na neve era possível em uma viagem de férias para Davos Platz, na Suíça, em um chalé de um amigo suíço do curso. Foi amor a primeira vista pelo esporte e era o inicio do snowboard no mundo. Eu tive que fazer uma adaptação em uma prancha de snowboard com uma bota de ski, usava calças jeans e um casaco que também não era de neve, mas estava tão empolgado com a novidade, que nem me preocupei. Não havia professores de snowboard naquela época então fui sozinho, subindo a pé e descendo por um dia inteiro, e neste mesmo dia já me identifiquei e consegui um bom controle.
Nos dias seguintes fui com os amigos suíços para as pistas mais difíceis. Aliás, eles me levaram de propósito para lugares que jamais alguém levaria um amigo no seu segundo dia de experiência. Mas eles fizeram de propósito, era só para “tirar uma onda”com o amigo maluco brasileiro. Depois desse ano, nunca deixei de ir para a neve praticar o esporte . E isso até hoje.
O investimento
O esporte exige um certo investimento. Hoje é mais comum encontrar brasileiros em todas as montanhas do mundo, seja aprendendo ou retornando para mais uma experiência.
Foi em 1995 que tive o privilégio de ser convidado a integrar a primeira equipe brasileira de snowboard do Brasil pelo então presidente da ABS (Associação Brasileira de Ski) sr. Domingos Giobbi. A ABS então passou a ser a ABSS ( Associação Brasileira de Ski e Snowboard), antes de virar Confederação.
Naquela época tínhamos que pagar praticamente todas as nossas despesas. Em algumas ocasiões o Sr. Domingos conseguia parceria com algumas montanhas que nos convidavam e forneciam acomodação e passes para treinarmos. O restante era por nossa conta, e assim foi por vários anos ao longo de minha carreira.
Hoje é diferente pois a CBDN ( Confedereção Brasileira de Desportos na Neve) está muito evoluída e recebe recursos financeiros do COB ( Comitê Olímpico Brasileiro) e FIS (Federação Internacional de Ski) que viabiliza aos atletas o recebimento de recursos para projetos de carreira. A CBDN é focada nos esportes de neve e formação desses atletas .
Para poder competir como profissional em alto nível é importante ser filiado a CBDN. É a confederação que, além do snowboard, controla outros esportes como o esqui, esqui aerials, cross country entre outros.
Patrocínios para atletas da neve
Patrocínios para esporte de neve sempre foi uma dificuldade mas, a cada dia, o snowboard vai ficando mais conhecido aqui no Brasil. Temos uma atleta, a Isabel Clark, que vive somente do snowboard com alguns apoios, patrocínios e com o recurso do Ministério dos Esportes que é o Bolsa Atleta Olímpico. Hoje em dia o valor desse recurso é equivalente a US$ 800,00.
No snowboard é muito difícil de se conseguir nível olímpico. Até hoje somente a Isabel conquistou a classificação.
Resumindo: tem que ser apaixonado pelo esporte pois o atleta passa aproximadamente 10 meses treinando e competindo fora de casa, caso não viva na neve. A Isabel é uma atleta brasileira que consegue se destacar internacionalmente no esporte, já participou de três olimpíadas de inverno e foi convidada para duas edições de X-Games.
Locais de treinos
Para os atletas brasileiros os treinos são feitos fora do Brasil, no Chile e no Copper Mountain no Colorado. Dependendo da modalidade o local pode variar, mas normalmente são realizados nas montanhas com estrutura específica e pistas exclusivas para equipes nacionais treinarem.
No Brasil temos o Centro de Treinamento de Freestyle, no Ski Mountain Park, em São Roque no interior de São Paulo. Lá há rampas de saltos e um air bag de 400 metros quadrados inflavél, importado do Canadá. Também há trampolins acrobáticos para manter o preparo físico em dia.
Competições e eventos
Em 2016, de 22 a 28 de setembro, teremos o 22º Campeonato Brasileiro de Snowboard que será em Corralco no Chile.
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Temos também um evento no centro de treinamento no Ski Mountain Park no dia 9 de julho de 2016 onde será realizado um evento internacional de Big Air de Snowboard.
No Snowland em Gramado, Rio Grande do Sul, normalmente uma vez ao ano, é realizado o Park Day de Snowboard, um circuito de slopestyle com neve artificial em um complexo indoor muito interessante.
Conquistas
Me orgulho de conquistas como a de ter sido campeão brasileiro FIS de snowboardcross em 2010 e 2012. Conquistei o título mesmo não podendo me dedicar tanto aos treinos, tendo adversários bem treinados e quase 20 anos mais novos que eu.
Em 2008 no Chile, foi uma experiência fantástica conseguir uma medalha de prata em um pódio de “South American Cup” sendo que o campeão foi um dos ícones americanos no snowboard e no motocross, Shaun Palmer. Foi um pódio emocionante.
O grande evento
Um dos eventos mais emocionantes na minha carreira toda de snowboard, foi quando em 2008 fui convidado pelo esquiador André Espinola, juntamente com o carnavalesco Paulo Barros, para um desfile de carnaval da escola de samba Viradouro no Sambódromo do Rio de Janeiro. Foi colocada na Sapucaí uma pista de neve artificial a base de gelo picado. Éramos o carro abre-alas.
A emoção começa no aquecimento da bateria e assim que se entra na avenida, aquela iluminação direcionada para nós, pessoas nos camarotes nos saudando com muitas palmas e gritos, foi muita adrenalina. E ainda tínhamos que ter muita concentração pois se cometêssemos um erro ali, custaria a vida pois não havia proteção lateral e, acredito, que estávamos a uma altura de 8 metros na largada. Entrei em um estado de transe, subi e desci durante mais de uma hora,sem sentir o corpo naquele momento. Conseguia fazer a curva com uma parte da prancha saindo na lateral, jogando neve de gelo nas pessoas, que deliravam conosco. E ainda estávamos com grandes amigos da neve neste evento histórico.
O que anda fazendo
Hoje sou diretor de snowboard da CBDN. Participo, no máximo, de duas provas internacionais por ano, apenas para me manter na neve com um pouco de adrenalina.
Faço um treino físico leve e treino com skate para a modalidade snowboardcross aqui em São Paulo, na praça de Esportes Radicais no Bom Retiro.
Normalmente atletas de snowboardcross competem até uns 40 anos de idade, já estou com quase 10 a mais que isto ( tenho 48 anos) , creio que sou um dos mais velhos ainda ativos que participam de provas internacionais.
Para quem quer começar
Quem quiser se iniciar oficialmente, é interessante procurar informações no site da CBDN (www.cbdn.org.br ) ou extra oficialmente em uma fun page que administro que: Snow Cool Trips.